Libras na UAB: Famílias sem Libras: até quando?

O médico explicou aos meus pais que eu poderia nascer surdo, mudo ou com Síndrome de Down, em razão da rubéola contraída pela minha mãe. Até apresentou a possibilidade de aborto. Mais ou menos assim, gesticulando, Márcio Friedrich, surdo, iniciou sua palestra no Polo Véra Grin, da Universidade Aberta do Brasil (UAB), sexta-feira, 31 de maio.
Hoje, o ex-repositor de mercadorias em supermercado, natural de Santo Cristo (Noroeste do RS), é professor e graduado em Administração de Empresas, licenciatura em Língua Brasileira de Sinais (Libras), em Matemática, e mestrando em Letras, entre outras formações acadêmicas.
Casado com Carla Klein, também surda, Márcio Friedrich mostrou entusiasmo na sua narrativa (na palestra, teve o apoio da tradutora Mônica Mendes Garcia, da Unipampa). Em trecho da página 229, do livro “Famílias sem Libras: Até quando?”, uma coletânea com 16 depoimentos, Friedrich registrou:
“Somos dotados de cultura, identidade e hábitos singulares de uma comunidade própria que muito bem nos representa: a comunidade surda. Temos orgulho de sermos surdos, pois a única diferença que temos em relação aos ouvintes é que não ouvimos, mas lançamos mão do aspecto visual para nos comunicarmos. Não queremos ser chamados de coitados, marginalizados, mudinho, mudão, mudos, surdos-mudos, pois isso é desvalorização e discriminação para uma comunidade que diariamente luta pelo seu espaço e reconhecimento.”
LEI
A Lei 10.436, de 2002, reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão no País – segundo a norma, um sistema linguístico de natureza visual-motora com estrutura gramatical própria.
O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais e municipais devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial de Fonoaudiologia e de magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Libra, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
LIVRO
Após a palestra, Márcio Friedrich autografou o livro “Famílias sem Libras: Até quando?”. Editora e Gráfica Caxias, R$ 35 (não é vendido em livraria).
A obra é organizada por Cleusa Ziesmann (doutora em Educação), Gladis Perlin (pós-doutorado em Educação), Shirley Vilhalva (mestrado em Linguística) e Sonize Lepke (doutoranda em Educação), todas com formação em linguagem de sinais.
FOTOS: Roque Tomazeli
TEXTO: Roque Tomazeli
FONTE: Prefeitura Municipal de Gramado